domingo, 13 de março de 2011

a agora?

Tinha bastante curiosidade em saber como decorreria o protesto, agendado para o dia de ontem, em Lisboa (e pelos visto, um pouco por todo o país) da apelidada "Geração à Rasca".
Curiosidade quanto à adesão.
Curiosidade quanto aos intervenientes.
Curiosidade quanto ao resultado.
Isto porque muitos arautos da desgraça, previamente à realização do evento haviam já premeditado o seu fracasso, supostamente porque, diziam (alguns) (d)eles, sem o beneplácito do partido comunista a tal levantamento, o mesmo iria mobilizar apenas meia dúzia de gatos pingados.
Um rotundo bitaite!
Felizmente, o partido comunista não foi chamado à colação e as 300 mil pessoas que saíram à rua demonstraram que a sociedade portuguesa não precisa de partidos comunistas nem intersindicais nacionais a puxar os cordéis para se manifestarem e dizerem o que lhes vai na alma.
Basta vontade e querer.
E ontem viu-se.
Não participei no referido protesto.
Mas tão pouco o censuro.
Talvez até devesse ter participado.
Até porque também me enquadro na enorme amalgama de jovens precários, abaixo dos 35 anos, sem rendimentos fixos, que passam recibos verdes, vive em casa dos país e não têm um "padrinho" que lhe oriente um tacho ou o empurre para a engrenagem de uma qualquer máquina partidária.
Mas as condições logísticas, entre outras, não me permitiram deslocar do "interior profundo" para a "metrópole" (como muitos pseudo-chiques-iluminados-intelectuais costumam apelidar ambas as zonas) para me juntar ao protesto.
Até porque protestar, já protesto todos os dias.
Até a minha profissão me concede um especial "direito de protesto" (sem brincadeiras, está previsto no n.º 2 do artigo 75.º do Estatuto da Ordem dos Advogados).
Mas outras coisas me fizeram não aderir (fisicamente) ao protesto.
Primeiro porque acho (talvez irresponsavelmente) que este tipo de manifestações , nos dias de hoje, (infelizmente) acabam por resultar em nada.
Ainda há pouco tempo, mais de 200 mil professores se manifestaram pelas ruas de Lisboa contra o descaminho do sistema e reformas educativa.
E o pouco que conseguiram foi levar como resposta um riso de troça de quem governa.
Depois porque hoje em dia, o nosso modelo democrático-politico-governativo encontra-se irremediavelmente subjugado a interesses e clientelismos partidários, que nada mais visa que não o bem-estar da sua maquina e dos que neles tem (priveligiadamente) o seu lugar.
Exemplo crasso foi a aprovação da chamada lei de financiamento dos partidos políticos, onde, (apesar dos inúmeros alertas que foram surgindo um pouco de toda a parte, quanto a graves ilegalidades que poderiam resultar da aplicação pratica da referida lei) todos os partidos, TODOS (até o irredutível partido comunista, que em tudo e mais alguma coisa, qual aldeia gaulesa entrincheirada e rodeada por fortificações romanas, se mostra do contra) votaram a favor da referida lei, uma vez que, deste modo, o dito "financiamento" ficaria mais facilitado e à mão de semear.
Exemplo crasso foi a rejeição de um diploma que impusesse limites máximos aos ordenados dos gestores públicos, onde as duas grandes maquinas partidárias, PS e PSD, uniram esforços para deitar por terra tal pretensão (com a justificação de que esses gestores, que conseguem o milagre de ter lucros operando sistemas monopolistas, podiam desertar para o estrangeiro. O jovem licenciado que termina o curso e não tem condições para dignamente poder trabalhar e viver no nosso país, esse já pode "desertar". Com desculpas destas só me apetece mandar aquela gente para um sítio que cá sei...)
É que na verdade, e desvirtuando a letra de Zeca Afonso, hoje em dia, o povo não é quem mais ordena.
Quem mais ordena é quem se senta na cadeira do poder.
E hoje só se senta no poder quem a maquina partidária bem entende.
E não é o povo que hoje consegue entrar na máquina partidária.
Para se conseguir entrar, fazer-se ouvir ou alcançar um lugar de destaque é preciso, sobretudo, ter um bom "padrinho", independentemente do mérito (e, provavelmente, engolir muitos sapos, carregar muitas malas ou lamber muitas botas).
Tudo o resto são cantigas.
Daí que me conforme com a ideia de que pouco adianta protestar na rua quando afinal o destinatário do protesto não quer está interessado ou pouco liga ao que se diz.
Os governantes, na boca do PM, dizem-se muito preocupados com aqueles que protestaram ontem na rua e, na verdade, até têm tomado medidas para inverter essa situação.
Mas na verdade o que é que o vemos fazer por todos aqueles que se manifestaram?
É com aumentos sucessivos nos impostos, nas contribuições sociais e em tudo quanto é taxas, com o aumento sem fim dos preços dos combustíveis, com cortes nas pensões, com cortes nos salários ou com portagens nas scuts que o nosso PM pretende resolver os problemas de quem ontem protestou?
Só me apraz encolher os ombros...
E o mais triste é que isto não vem de agora, está assim há muitas décadas.
Se acho que são necessárias mudanças?
São (e sem sombra para dúvidas)!
Mas existem condições para que essa mudança ocorra?
Dadas as condições supra, infelizmente, quer-me parecer que não.
O respeito por parte de quem manda para quem, com o voto, ali o põe, é pouco ou nenhum.
E isto já lá não vai com palavras de ordem.

P.S.: como supra referi, também eu me posso enquadrar perfeitamente na chamada "Geração à Rasca". Mas, nesse caso, agradeço ao senhor Miguel Sousa Tavares que não me apelide de "Deolindo", como já fez por aí.
Primeiro, porque abomino o nome.
Segundo, porque não vou à bola com a mencionada música dos Deolinda, nem tão pouco me identifico nela.
Terceiro, porque muito menos acho que a referida música seja o hino de uma geração ou que o dito grupo musical seja a imagem (por muito que o queira) da dita geração, (querendo-se passar uma colagem forçada e injustificada a Zeca Afonso e as suas musicas de intervenção).
Para além disso, nunca ouvi chamar à geração do pós 25 abril, os "Zecas" ou os "Zé Mários"
Eu sou pura e simplesmente de uma geração cujo futuro é nebuloso e já viu melhores dias.
E nada mais.
Acho que se dispensam os epítetos.